Conversamos dia desses, Luís e eu, no hall do prédio. Ele me contava como andava a vida, reclamou que as férias já estavam acabando, falou sobre futebol, sobre alguns poucos e sempre presentes amigos e, por fim, sobre garotas. Fiquei surpresa.
Ele, todo arrumadinho, do tipo criado (literalmente) com a vó, nunca havia mencionado menina nenhuma. Nem gorda, nem magra, nem chata, nem legal. Nem sobre as primas ele falava. Mas sobre a Mariana ele resolveu contar.
– Sabe, tia, ela é chata.
– Chata por que, Luís?
– Por que fica bolando planos com as outras meninas pra atrapalhar as nossas brincadeiras.
– Atrapalhar por que? Vocês não podem brincar juntos?
– Não, tia. Meninas e meninos não podem brincar juntos, tá na regra.
– Na regra de onde, Luís?
– Da escola, ué. Se um menino brincar com uma menina ele não é mais considerado tão menino. E eu também não gosto muito de meninas. Quando eu fico perto da Mariana me dá um negócio que incomoda.
– Negócio na barriga?
– Não, no peito. Parece que eu pulei na piscina e tô sem ar. Meninas fazem mal.
– Eu acho que você gosta da Mariana, Luís, por que você não chama ela pra brincar? Meninos podem brincar com meninas, olha só, tenho vários amigos meninos, você é menino.
– Mas voce é não é menina, você é gente grande.
– E gente grande é diferente?
– É porque se ela souber que eu me importo com ela, ela vai fugir. E sabe, tia, eu não gosto dela, mas não quero ter a certeza de que ela não gosta de mim.
E de repente eu comecei a ver tantas semelhanças entre a vida adulta e o jardim da infância que fiquei com um pouco de medo de contar pro Luís que quando a gente vira gente grande continua exatamente do mesmo jeito.